Val Coelho: quando a arte aponta o caminho

Antes de moldar acetatos, Val moldou cores, luzes e silêncios – e é dessa trajetória artística que nasce a força criativa que acompanhará suas futuras armações.

Meu ateliê, numa casinha antiga em Bragança Paulista, era cantinho de convivência também das crianças, em 2019, e dali saíam minhas criações. 

A artista que sempre esteve ali

Muito antes de descobrir o ofício dos lunetiers, a arte já fazia parte de mim. Era um lugar de respiro, de identidade. Sempre gostei de pintar, estudar cores, me perder entre telas e pincéis. Mas a vida acontece e esse lado ficou quieto por um tempo.

Até que conheci o Dadau, meu marido, e algo reacendeu. Construímos uma família linda. Voltei às papelarias, comprava pincéis sem saber quando usaria. Entre as brechas de uma rotina com três crianças, o impulso de criar voltou. Me matriculei na Panamericana de Arte e, entre mamadeiras e reuniões escolares, fui me formando. Não era simples, mas era meu. Era o refúgio para respirar fundo e reencontrar minha própria luz.

Pintar nas brechas do cotidiano

Quando moramos em Bragança Paulista, esse retorno ganhou forma. Fiz uma exposição na Casa Lebre: a série Pontos de Luz – fundos escuros, contrastes fortes, pequenas janelas de cor que iluminavam o silêncio. Aqueles quadros falavam de mim: do caos, da delicadeza, da luz possível dentro do escuro.

A maternidade exigia criatividade também no horário. Eu picava folhas de aquarela em pedaços pequenos para pintar em qualquer canto da casa. Criava entre sonecas, filmes infantis e cadeiras de balanço. Bastava uma prancheta no colo e uma mesinha ao lado. Cada fragmento virava uma cor que escapava do dia, uma forma nascida entre brinquedos no chão. Ali, em cada pincelada miúda, eu me reencontrava.

No ateliê, eu em plena produção para uma das obras que compõem a exposição Pontos de Luz, que aconteceu em abr/2019.

Na abertura da exposição, a alegria estampada em nossos rostos – meu e do meu marido Dadau. Ao lado, uma das obras, Polvo.

Como a arte abre espaço para a lunetier

Hoje entendo que essa trajetória me conduz ao mundo dos óculos. Criar uma armação também é equilibrar luz e sombra, escolher contrastes, entender o gesto, aceitar o tempo das mãos.

As cores das minhas obras de arte talvez voltem, agora como detalhes de uma ponte, curvas de uma haste, nuances de acetato. Minha história como artista não fica à margem dessa nova vida; ela respinga e orienta o que ainda vou construir. Antes de virar lunetier, eu já era criadora. Só mudei o suporte. As mãos continuam as mesmas.

Mini-bio

Val Coelho é nutricionista de formação e futura lunetier de coração. Apaixonada por arte, cores e histórias com propósito, descobriu no design de óculos uma nova forma de cuidar – agora, do olhar.
Contatos: @val_coelho_oficial    val@vallunetier.com.br